Com excesso de otimismo, o brasileiro raramente se atenta para os custos com a reparação
As vendas de carros estão aquecidas no país. São novas ofertas a cada dia e muitas possibilidades para os consumidores adquirirem modelos modernos e com alta tecnologia. Com tantas opções, é preciso avaliar bem a que mais se adéqua às necessidades pessoais e financeiras. Por isso, é necessário ter atenção no momento da compra para todas as questões que envolvem os preços finais e a projeção de gastos dos automóveis.
A Anfape – Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças – sinaliza a importância de analisar o valor das peças de reposição do veículo na hora da escolha. Isso é fundamental, pois algumas pessoas são excessivamente otimistas e acabam não considerando a manutenção, que pode acontecer por conta de pequenos ou grandes reparos.
A maioria dos problemas se concentra na reparação eventual, ou seja, quando o carro quebra ou se acidenta. Se o veículo for importado, de uma marca ou modelo novo no mercado, a situação se agrava ainda mais. “Como não existem concorrentes para a maioria dessas peças, as montadoras acabam cobrando os preços que acharem mais convenientes”, diz Roberto Monteiro, diretor executivo da Anfape.
Por isso, é imprescindível a visão da totalidade da compra. Ter a noção exata do bem que se adquire para avaliar se o custoXbenefício está sendo mesmo proveitoso. Grande parte dos consumidores dificilmente presta atenção nos princípios básicos para fechar o negócio.
Os consumidores, embora muitas vezes façam uma boa pesquisa de mercado antes de optar por uma determinada montadora e modelo, raramente consideram questões não menos importantes, como o preço do seguro ou o custo “por inteiro” de manutenção. “Muitas pessoas não pensam que um dia podem precisar trocar o retrovisor, para-choque e outros componentes visuais”, afirma.
O valor inteiro ou global de conservação envolve não apenas os preços das revisões obrigatórias, que a maioria das montadoras informam, mas também aqueles da reposição de peças não incluídas nesta revisão obrigatória, mesmo porquê, estes custos nunca são divulgados ao grande público pelas montadoras. São obscuros, ocultos, apenas se revelam mais tarde, quando ao consumidor não resta opção senão adquirir a peça.
Muitas montadoras contam com este elemento “surpresa” para majorar seu lucro, e é por isto que nunca divulgam o preço de suas peças de reposição que é, em muitas das vezes, bastante incompatível com o do veículo. Isto é, curiosamente, uma peça de reposição de um carro popular, uma lanterna, um espelho ou um farol, por exemplo, não terá necessariamente um preço popular; bem ao contrário, muitas vezes a reposição da peça para um carro popular tem custo semelhante à de um veículo de categoria superior.
É necessário também lembrar que vivemos um momento de desgaste do setor automotivo, devido ao desabastecimento. As montadoras vendem mais carros, mas não conseguem suprir as obrigações com a manutenção, principalmente de frotas antigas.
“Está difícil encontrar peças de reposição, até mesmo as visuais como lanternas, faróis etc. Apesar do mercado independente minimizar esses problemas, algumas montadoras como FIAT, FORD e Volkswagen querem impedir a livre concorrência no segmento e acabam por gerar ainda mais transtornos aos consumidores”, explica.
O executivo destaca que ao analisar esse cenário fica fácil perceber que veículos que aparentam bom custo podem causar prejuízos significativos, daí o “barato sai caro”, como diz o ditado popular. “Muitos consumidores enfrentam questões sérias na hora do conserto. É comum encontrarmos pessoas que deixaram seus carros na concessionária por muito tempo (há espera de até três meses) por conta da falta de peças”, comenta.
Como a Anfape luta pela preservação dos direitos dos consumidores, é um movimento natural esclarecê-los sobre transtornos que podem acontecer, caso o reparo do veículo não seja considerado na decisão da compra. “O brasileiro deve se preocupar muito com a manutenção, principalmente diante do problema de desabastecimento. Só assim saberá escolher a melhor opção com tantas possibilidades disponíveis”, enfatiza. E no caso das independentes, como fazem concorrência nas peças de danos eventuais, as montadoras querem eliminá-las.
A ANFAPE – Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças surgiu com o intuito de representar e fortalecer o setor de reposição independente de autopeças no Brasil. Desde a sua constituição, em 2007. A entidade tem buscado reverter as ações de algumas grandes montadoras de automóveis que se valem do expediente de registrar os componentes visuais de seus veículos (capôs, para-lamas, para-choques, faróis, retrovisores etc.) como desenhos industriais com o propósito de inibir a atuação dos independentes no segmento de reposição, o que se dá por meio da proibição da produção e da comercialização das peças.
No início de 2007, a ANFAPE formulou uma representação junto ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência – CADE denunciando a conduta das montadoras FIAT, FORD e Volkswagen. Tal iniciativa teve como objetivo assegurar às empresas do mercado independente de autopeças o direito de produzirem e comercializarem itens visuais dos veículos. A Associação considera que as montadoras utilizam seus registros de desenhos industriais de peças automotivas de forma abusiva, o que configura conduta contrária à ordem econômica brasileira.
SP 26.07.2011