Um dos assuntos de maior repercussão neste ano é o desabastecimento do setor de autopeças no Brasil. Absurdos foram detectados em casos gravíssimos com pessoas que aguardam a mais de 30 dias com o carro na oficina, ou concessionária, por conta da falta de peças.
Passado o 1º semestre, apesar do assunto estar um pouco menos em evidência, a situação certamente não teve melhoras significativas. Prova disso é o resultado da pesquisa elaborada pelo Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo – Sindirepa, publicada no jornal Sindirepa News, edição nº 164, de setembro. A análise demonstra que a FORD lidera o ranking do desabastecimento no Brasil, em quarto lugar está a FIAT e a VOLKSWAGEN se encontra logo em seguida, no quinto.
Isso mesmo, FORD, FIAT e VOLKSWAGEN, montadoras que brigam com a Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Anfape) querendo impedir a atuação das independentes, visando eliminar a concorrência no setor de reposição de peças visuais dos veículos, tais como para-choques, retrovisores, lanternas e capôs, que compõem o chamado segmento de “colisão”.
“É uma situação, no mínimo, constrangedora para os brasileiros. Se buscam extinguir as independentes – e isso é claro que impactará diretamente na economia do país, visto que o setor de reposição gera mais de 934 mil empregos diretos em mais de duas mil indústrias, mais de mil distribuidores, 35 mil varejistas e 120 mil oficinas – então deveriam atender corretamente a demanda do mercado de autopeças, mas não é o que acontece, pois ocupam lugares de grande destaque no ranking do Sindirepa”, diz Renato Fonseca, presidente da Anfape.
O estudo foi encaminhado à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e à Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) para que as montadoras fiquem cientes da situação e tomem as devidas providências para regularizar o abastecimento de peças no mercado de reposição.
“É preciso garantir alta qualidade no atendimento ao consumidor. Algumas montadoras, como a FORD, FIAT e VOLKSWAGEN, não conseguem abastecer o mercado de reposição, mas não querem que outras empresas o façam. É inaceitável deixar o consumidor numa situação de tamanha fragilidade como a que se encontra”, afirma Fonseca.
E o problema afeta também as seguradoras, que não conseguem atender os clientes. “Se as seguradoras autorizassem o uso de peças não-originais nos carros, o tempo de conserto diminuiria absurdamente”, explica Fonseca. Isso sem mencionar a possibilidade da redução do preço do seguro, o que o tornaria mais acessível à população menos favorecida.
Ele ressalta que as peças não-originais disponíveis no varejo (lojas de autopeças) também têm qualidade, marca própria, garantia e seguem rigorosos padrões de excelência, muito diferente da imagem que as montadoras tentam propagar, de baixa qualidade. Isso sem entrar no mérito do preço, que chega a ter diferença maior que 30% dependendo do item.
Em dezembro do ano passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) proferiu decisão favorável à causa levada pela ANFAPE contra o abuso das montadoras FORD, FIAT e VOLKSWAGEN, que buscam eliminar a concorrência no setor de reposição de peças visuais dos veículos. O Conselho tomou a decisão após avaliar em profundidade os argumentos dos envolvidos.
Na prática, esse anúncio significa que o Cade (autarquia com a finalidade de regular o mercado concorrencial) determinou a necessidade de abertura de um processo administrativo contra as montadoras de autopeças em questão. Neste momento, a investigação está sendo executada e todos esperam a vitória dos consumidores, com a manutenção do direito de liberdade de escolha na hora de consertar o carro.
A Anfape – Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças surgiu com o intuito de representar e fortalecer o setor de reposição independente de autopeças no Brasil. Desde a sua constituição, em 2007. A entidade tem buscado reverter às ações de algumas grandes montadoras de automóveis que se valem do expediente de registrar os componentes visuais de seus veículos (capôs, para-lamas, para-choques, faróis, retrovisores etc.) como desenhos industriais com o propósito de inibir a atuação dos independentes no segmento de reposição, o que se dá por meio da proibição da produção e da comercialização das peças.
No início de 2007, a Anfape formulou uma representação junto ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência – CADE denunciando a conduta das montadoras FIAT, FORD e Volkswagen. Tal iniciativa teve como objetivo assegurar às empresas do mercado independente de autopeças o direito de produzirem e comercializarem itens visuais dos veículos. A Associação considera que as montadoras utilizam seus registros de desenhos industriais de peças automotivas de forma abusiva, o que configura conduta contrária à ordem econômica brasileira.
SP 13.10.2011.