Estar bem posicionado no mercado de reposição não é só importante, mas altamente estratégico. Por isso, as empresas que fornecem para as montadoras, hoje são mais atuantes nesse setor, responsável por 14,6% das vendas anuais do mercado automobilístico, que movimenta aproximadamente R$ 90 bilhões.
“O canal de reposição é muito atrativo, pois é justamente onde estão as maiores oportunidades de lucros. Daí vem o interesse das montadoras de veículos em não terem concorrência nesse segmento”, diz Roberto Monteiro, diretor executivo da Anfape – Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças.
Como manter a rentabilidade está cada vez mais difícil, além da oferta crescente de veículos asiáticos, que exerce certa pressão sobre os preços dos produtos, o after market – como o segmento é também conhecido – acaba sendo uma saída para sustentar a lucratividade.
Mas, a questão se torna alarmante quando se percebe o papel do consumidor nesse processo. Se de um lado as montadoras FIAT, FORD e Volkswagen buscam o domínio do mercado de reposição, porque nele se encontram as maiores oportunidades de lucro, por meio de uma luta que visa extinguir a atuação das fabricantes independentes, de outro lado está o consumidor que tem o direito à liberdade de escolha no momento da compra.
Além disso, se as montadoras conquistarem esse “monopólio” é fato que os valores das autopeças devem crescer substancialmente, pois não haverá concorrência, balizadores de preços, e o consumidor ficará refém da métrica de valores dessas empresas.
“Como os motoristas tendem a fazer manutenção com maior frequência a partir do terceiro ano de uso do veículo, agora a indústria está sentindo os reflexos do boom nas vendas de 2007. Com isso, o mercado de reposição está, mais do que nunca, muito atrativo. Ainda mais quando as relações entre montadoras e consumidores estão bem delicadas por conta da alarmante situação de desabastecimento do setor”, ressalta Monteiro.
Em síntese, o mercado de reposição (indústria, distribuição, varejo e oficinas) movimentou R$ 73,8 bilhões em 2011, apontando crescimento de 7% no momento em que o déficit da balança comercial de autopeças atingiu US$ 4,64 bilhões. Outro dado impactante é que, em sete anos, os gastos com reparadores mecânicos cresceram anualmente 9,4%, chegando a R$ 32,2 bilhões no último período.
“São dados imprescindíveis quando se analisa os motivos pelos quais as montadoras brigam para conter a atuação das fabricantes independentes. Mas, é importante que o consumidor observe que sem a atuação das independentes o desabastecimento estaria ainda pior, pois são essas empresas que disponibilizam as peças que as montadoras não têm mais interesse em vender, como as de um veículo (um bem) de cinco anos, por exemplo”, pontua Monteiro.
A Anfape – Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças - surgiu com o intuito de representar e fortalecer o setor de reposição independente de autopeças no Brasil. Desde a sua constituição, em 2007. A entidade tem buscado reverter às ações de algumas grandes montadoras de automóveis que se valem do expediente de registrar os componentes visuais de seus veículos (capôs, para-lamas, para-choques, faróis, retrovisores etc.) como desenhos industriais com o propósito de inibir a atuação dos independentes no segmento de reposição, o que se dá por meio da proibição da produção e da comercialização das peças.
No início de 2007, a Anfape formulou uma representação junto ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência – CADE denunciando a conduta das montadoras FIAT, FORD e Volkswagen. Tal iniciativa teve como objetivo assegurar às empresas do mercado independente de autopeças o direito de produzirem e comercializarem itens visuais dos veículos. A Associação considera que as montadoras utilizam seus registros de desenhos industriais de peças automotivas de forma abusiva, o que configura conduta contrária à ordem econômica brasileira.